Este é um tempo em que nos podemos sentir de pés e mãos atadas. Como podemos nós, terapeutas de quirofonética, contribuir nesta fase?
A quirofonética é uma terapia que utiliza a força criadora dos fonemas, por serem um elemento curador e harmonizador em situações diversas.
Pelos princípios desta terapia, somos formados pelo Logos, tendo em nós a consolidação material desta força espiritual poderosa que deu origem ao ser humano e a tudo na Natureza. O Verbo, como está referido no Evangelho de João é o princípio, a causa primordial de tudo. Cada ser humano é dotado da capacidade de exteriorizar o verbo quando fala, pelo Organismo da Fala, distinguindo-se dos restantes reinos da Natureza.
Quando falamos estamos a utilizar fonemas, partes integrantes do Verbo, para transmitir ideias, sentimentos e a nossa vontade. Desta forma, o Verbo-Logos flui, tornar-se visível, audível e vivo, reproduzindo o movimento de criação arquetípica e tornando-nos seres co-criadores.
Quando atuamos terapeuticamente com estas forças do Logos, estamos a usar os nossos membros superiores, as mãos, para reproduzir, modelar, tornar palpável e perceptível ao paciente a forma fonética do fonema que é o guardião do Logos na Terra. Este irá perceber e receber pela pele, pelo tato, a forma que o ar faz ao falarmos um determinado fonema como um corpo fonético em si.
Também ouvirá o fonema e a sua vibração. A percepção auditiva vai de encontro à essência das coisas, à substancia tornada som, à matéria que ao sair do seu estado paralisado mudo soa no estado vibracional.
Alfred Baur, o fundador da quirofonética, além de nos presentear com a técnica da quirofonética e toda a sua fundamentação teórica de acordo com Antroposofia de Rudolf Steiner, também nos presenteou com uma série de jogos, versos e brincadeiras que podem ser feitas com os fonemas e a palavra, tornando-a também terapêutica.
Neste sentido, os terapeutas de quirofonética, podem continuar com a sua intenção terapêutica usando a Palavra para trazer um movimento construtivo e harmonizador sem utilizar as mãos com o toque no paciente. Assim, não utilizamos o ”Quiros”, mas o "Fonos".
Fazemos uma sugestão para que possam brincar executando um movimento fonético construtivo, seja individualmente ou com as vossas crianças.
Desejamos a todos um frutífero tempo de reencontro com o Logos, nesta fase de pandemia durante a qual os nossos contactos presenciais estão limitados. Afinal, cuidar a Palavra que dizemos a cada um já é um movimento sanador.
Buák, Buách, Buá.
- Que barulhinho é este? Quem é que estar a dar beijos? Disse o Tomás bem severo.
E por ser em casa o mais velho queria ser o mandão.
- Acabei de ouvir o meu professor, que beijos estão proibidos, deu agora mesmo na televisão.
- Pois nesta gripe do passa-passa, quem dá um beijo a outro, não está a ter cuidado e pode fazer todo o mundo ficar bem adoentado.
Buák, Buách ,Buá.
- Lá vens tu, sempre a mandar. Então eu não sei? Disse Raquel bem contente? Eu também já recebi notícias de toda gente.
- E mesmo assim continuas? A beijar por todo lado? Vou contar para a mamã o que estás a fazer ao meu lado.
Então Raquel sorridente mostrou ao irmão o segredo.
Com as mãos bem apertadas, bem juntinhas como os lábios, conseguia executar, um movimento ligeiro e dar um beijinho para o ar.
E saíram os dois bem felizes a beijar a natureza, desta vez com segurança, sem perigos de passar, a gripe do passa- passa a quem fossem encontrar.
E ensinaram os amigos, até mesmo os avós, e todos muito felizes, beijavam-se com as mãos, sem mesmo chegar muito perto nem encostar uns aos outros, pois beijo no fundo, é verdade, vem mesmo do coração.
Buák, Buách, Buá.
O B é um fonema bilabial com soltura elástica. Difere do P cuja soltura é explosiva.
A soltura elástica já mostra o quanto este fonema é amoroso, suave, envolvente.
Dá nos a vitalidade necessária para um novo renascimento, seja ele nos 3 âmbitos da nossa organização, física, emocional e mental.
O B segundo Baur está indicado nos processos relacionados com os rins e aqui não apenas na função limpadora do rim mas também na sua função mantenedora de um equilíbrio homeostático proteico.
Os rins são os órgãos que temos colocados na parte de trás do abdómem, numa área escura e protegida. Como de fossem dois grandes olhos a observar tudo o que está ao seu redor. Costuma-se dizer que os rins são os olhos que nos olham constantemente e que cuidam de nós.
Podemos usar o B em diferentes situações, e de diversas maneiras, assim em quirofonética respeitando principalmente a necessidade do paciente.
Mas podemos também gozar dos benefícios de um B como um beijo carinhoso que damos a nós mesmos. Afinal nestes momentos de tanta incerteza, manter a certeza de que somos aqueles que podemos transformar tudo, vamos nos agraciar com um beijo em nossa alma.
E ela vai agradecer nos dando maior coragem, dissipando o medo e confiando mais nos nossos destinos.
Neste recurso quis exemplificar o B com o movimento das mãos a executar uma sucção, suave, sem tensão e experimentar ouvir o som do “beijinho” que brota deste movimento como algo novo, um espaço sonoro lançado ao ar, renovador, mantenedor da harmonia. Ele vem de nós pelo atuar das nossas mãos, pela nossa vontade de renascimento em nós e do mundo. Ele vem de um momento de encontro entre a mão direita e a esquerda, do aconchego dos dois lados no centro. Depois vem o momento de calma e concentração, estar em si próprio. E depois o B soa e concretiza-se pelo ato de libertação elástica das mãos.
Dá pra imaginar que vale a pena brincar com o B assim.
Bons momentos é o que desejamos a todos.
Dr. Mauro Menuzzi
Verso | Descrição do movimento pelo adulto |
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Um passarinho de asas azuis como o céu, | Mãos fechadas com os dedos entrelaçados |
Patinhas encarnadas | Dedos mindinhos separam-se e batem um no outro |
E bico da cor do mel, | Dedos polegares separam-se e batem um no outro |
Voava, voava a procura | Mãos unidas pelos polegares com os dedos abertos fazem o movimento de voar |
De sementes bem fresquinhas pra encher a barriguinha. | |
E lá numa árvore frondosa, | Voar sobre a cabeça da criança |
Foi pousar num dos seus galhos. | Pousar as mãos abertas no ombro esquerdo da criança |
Quando viu lá na pontinha, sementes douradas fresquinhas | |
Num escorregar ligeiro | Descer ao longo do braço esquerdo, até a mão da criança |
desceu até as sementes. | Apoiar a mão da criança e com a outra |
PI PA PO - 3 delas pra dentro da goela. | Usando o Indicador e polegar fazerum estalinho no dedo mindinho (5º dedo) |
PI PA PO - e mais 3, bicou ele contente, | O mesmo procedimento no 4ºdedo da criança |
PI PA PO - que deliciosas são | O mesmo no dedo do meio (3º) da criança |
PI PA PO - aqui mesmo | O mesmo no indicador da criança |
PI PA PO - vou fazer a refeição. | O mesmo no polegar da criança |
E ao olhar pr´ outro galho | Fechar novamente as mãos em concha e repetir o movimento de abri-las mantendo os polegares unidos (como um pássaro a voar) |
Viu lá a mesma fartura | Apoiar as mãos abertas no ombro direito da criança |
E de novo a escorregar por ele, | Descer ao longo do braço direito, até a mão da criança |
Continuou a aventura. | Apoiar a mão da criança e com a outra |
PI PA PO - sabem tão bem. | usando o Indicador e Polegar fazer um estalinho no dedo mindinho da criança (5º dedo) |
PI PA PO - nunca comi nada assim. | No 4º dedo direito |
PI PA PO - têm gosto de raio de sol | No dedo do meio direito |
PI PA PO - e cheiro de primavera. | No dedo indicador direito |
PI PA PO – têm a cor do meu bico. | No dedo polegar direito |
De papo cheio e contente, | Ajuntar as mãos da criança uma sobre a outra |
É aqui mesmo que fico. | Pousar as mãos sobre as mãos da criança |
E adormeceu ali mesmo, | Um momento de contacto em silêncio |
No sopro do vento quente. | Voltar a fazer o passarinho com as duas mãos unidas |
Quando acordou, deu um voo lá por cima. | Voar com as mãos em volta da cabeça da criança |
E por estar tão feliz, | |
Deu um beijo no teu nariz - P. | Dar um estalinho com o dedo indicador e polegar na pontinha do nariz da criança.- P |
Neste recurso o adulto e a criança sentam-se um a frente do outro.
É bonito gerar um ambiente de sonho e imaginação e para tanto use a sua liberdade.
Uma vela acesa pode marcar o início e o fim da actividade. Uma toalha felpuda ou uma
mantinha podem deixar a criança acolhida e pronta pra escuta.
Só pedimos para não usar incensos nem música de fundo pois eles despertam outros canais
sensoriais e o que queremos é deixarem activos a audição e o tacto. Se quiserem
podem usar um óleo para deslizar melhor com as mãos.
As mãos das crianças estão apoiadas sobre a toalha, sobre os joelhos.
O adulto deve, de preferência, treinar antes sem a criança para que ela possa ganhar
o momento como surpreza.
O resto é por sua conta e nunca deixem de repetir quando a criança pedir,
isto é sinal que fez bem pra ela.
P é um fonema labial, explosivo que tem a qualidade de acordar o sistema metabólico
e principalmente o seu carácter analítico. Portanto auxilia na digestão, no relaxamento,
estimulando a vontade.
Na área das emoções auxilia na transformação de traumas, facilitando a criação de algo novo,
vivo e saudável.
E na área mental activa as idéias e o pensar
para uma dinâmica mais luminosa e criativa.
Neste recurso o P quirofonético vai estar presente sempre que estalarmos nossos dedos
com dedinhos das crianças no meio e ao mesmo tempo falarmos o P. Portanto executamos 3 vezes o P
em cada dedinho sob a forma fonética de PI, PA. PO. Uma última vez será apenas sobre o Nariz
e ali sem as vogais.
Desejamos um lindo momento.
Dr. Mauro Menuzzi
medicina@ephesus.pt
Tel: 912 456 818